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Holanda, Ajax e o ideal do Futebol Total

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Holanda, Ajax e o ideal do Futebol Total Empty Holanda, Ajax e o ideal do Futebol Total

Mensagem  Admin Ter Dez 16, 2008 9:11 am

Em 1969, Ajax e Milan entraram no gramado do Santiago Bernabéu, o estádio do Real Madrid, sem saber que estavam escrevendo uma página da história do futebol maior do que a importância reservada para a decisão do título de Campeão da Copa dos Campeões da Europa na temporada 1968-69. Ao final da partida, um placar folgado de 4x1 para o Milan poderia sugerir que a "zebra" holandesa, que já chocara a Europa dois anos antes ao destroçar o respeitado Liverpool de Bill Shankly por 5x1 jogando em casa, era apenas uma promessa passageira. Que seu jogador mais afamado, Johann Cruyff, não passava de mais uma estrela de brilho curto. De fato, em algumas das entrevistas feitas após a partida decisiva, o tom era de mostrar que o raciocínio acima era correto. Porém, o que o mundo assistiria a partir daí, faria enverogonhar-se qualquer um que pudera imaginar isso.

O futebol holandês era profissional há apenas 11 anos e um ano após conquistaria sua primeira Copa Européia com a vitória do Feynoord, na mesma Copa dos Campeões, contra os antigos vencedores de 67, os Celtics escoceses. A partir da derrota do Ajax e da vitória do Feynoord, a Holanda se colocava definitivamente no mapa do futebol europeu. Ficava claro que algo despontava a partir da ainda "pré-adolescente" Eredvise, a liga dos clubes holandeses.


Holanda, Ajax e o ideal do Futebol Total Cruyff


Se coube ao Feynoord conceber o primeiro título continental para o futebol holandês, foi o Ajax, que se portara como o mensageiro dessa mudança, que transformou-se num mito do próprio futebol, estabelecendo uma dinastia com três títulos consecutivos da Copa dos Campeôes, fato que não ocorria no Velho Mundo desde a epóca de domínio do Real Madrid e seus cinco títulos entre 1955 e 59. A mitologia do Ajax era embalada por alguns fatores, mas todos eles podiam ser condensados em duas figuras: seu treinador Rinus Michels e seu grande jogador Johann Cruyff. Michels, era um aficcionado pela preparação física, extremamente disciplinador (não à toa seu apelido era "O General"), mas também um entendedor completo do jogo. Sua capacidade de compreensão da dinâmica dos 22 jogadores em campo era tão impressionante que seu trabalho foi laureado com a escolha pela FIFA de seu nome como o maior entre os treinadores do século XX. Já a genialidade dentro de campo, cabia ao magricela Johann Cruyff, um jogador que como poucos alinhava sua capacidade técnica, com sua enorme inteligência para o jogo. Cruyff tinha uma personalidade fortíssima - ele se tornou o primeiro jogador holandês a ser expulso de sua seleção por desenteder-se com o árbitro - e isso se refletia dentro do gramado. Não necessariamente em explosões de raiva, como costumeiramente relacionamos o fato de um jogador ser personalista. Não, Johann demonstrava isso sobremaneira pela forma como sempre determinava o ritmo da partida. Não restava dúvida ao vê-lo jogar quem era o "uomo squadra" seja do Ajax ou da Holanda. Mas seria uma completa injustiça reduzir o Ajax a estes dois homens, mesmo tendo sido eles os gênios determinantes para a formação da epóca de ouro dos Oranges. Aliado a isso, a Holanda possuiu nesta primeira metade da década de 70 sua melhor geração de jogadores. Eles todos extremamente inteligentes e capazes de por em prática o que Michels chamava de "totalvoetbal" e que o mundo passou a chamar de "futebol total". Esse conceito ou filosofia pregava essencialmente que não existia um lugar único para cada jogador ocupar e que todos podia mover-se de forma a ocupar o mais eficiententemente possível os espaços em campo. Ao ver o Ajax jogar nessa época, essa idéia parece um pouco ingênua, pois o time se mantinha essencialmente num 4-3-3, um esquema até hoje muito utilizado por equipes e treinadores holandeses. Mas o 4-3-3 (talvez uma invenção brasileira) era apenas um pano de fundo para a real dinâmica do jogo. A questão não era o número de jogadores em cada setor, mas mais do que isso, quais eram os jogadores que estavam naquele setor. Além disso, era impressionante como os jogadores formavam bloqueios para uma marcação pressão ao adversário, na tentativa de sempre manter a posse de bola. É elucidativo ver que em tempos modernos essa prática seja tão visivelmente associada ao F.C. Barcelona, treinado por Michels na segunda metade dos anos 70 e que depois viu passar por seu banco descendentes da filosofia do General: Cruyff, Van Gaal e Rijkaard.


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A idéia do futebol total não foi criada por Michels ou qualquer outro holandês. De fato, já nos anos 30 essa concepção de um futebol completo era percebida por outra lenda entre os treinadores: o austríaco Hugo Meisl, que concebeu a primeira entre as equipes lendárias do futebol, o Wunderteam. Mas, não resta dúvidas que Michels foi o primeiro e talvez único a tornar realidade esse ideal, uma quase Pedra Filosofal do futebol. Na Copa da Alemanha, em 1974, a Holanda pôs em prática esse conceito na mais absoluta acepção da palavra. O fato de enfrentar todas as tradicionais equipes sulamericanas (Uruguai, Argentina e Brasil) ajudou a mostrar o contraste entre o novo e a tradição. Os holandeses "engoliam" os sulamericanos. Na partida contra os uruguaios, que foi a estréia de ambos na Copa, é impressionante o domínio dos alaranjados. Os uruguaios pareciam sempre cansados. Era o ícone de uma passagem de eras, um futebol baseado em toques cadenciados morria ante a pressão ensandecida de 11 homens que nunca se mantinham em posição e que pareciam se multiplicar em campo. Contudo, não é razoável dizer que os holandeses representavam o triunfo do físico contra o jogo técnico dos sulamericanos. De forma alguma. A Holanda também contava com jogadores de grande capacidade técnica como o absoluto Johann Cruyff, mas também Krol, Nesskens e Rensenbrink, apenas para citar alguns. Toda essas idéias despertadas tanto pelo Ajax quanto pela seleção da Holanda, tinham seus ingrediente anacrônicos. Enquanto no Ajax, Michels fazia jus ao seu apelido de General, na seleção ele foi ao extremo oposto, liberando a concentração na Copa do Mundo, permitindo a presença de esposas e namoradas dos jogadores, Coisas como essa alimentavam a lenda sobre a liberdade holandesa, cunhada pela liberdade das ruas de Amsterdã ou a "anarquia" tática de suas equipes. Era uma segunda revolução dos ideais calvinistas, por assim dizer.


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Porém, como quase todos os revolucionários do futebol, as belas páginas escritas pela Holanda, se encerraram numa derrota épica. Foi assim com a "Laranja Mecânica" que perdeu a final da Copa de 1974 para os donos da casa, os pragmáticos alemães que tinham como base uma equipe ascendente na Europa, o Bayern Munique. Não coincidentemente, foi o Bayern, cuja figura máxima era o Kaiser Franz Beckenbauer, que inauguraria uma dinastia para finalizar a hegemonia do Ajax. Assim como os holandeses, o Bayern tornou-se tricampeão europeu. Diferente dos holandeses, os alemães não trouxeram um ideal de sonhos ao futebol, mas sim a realidade ao baté-los naquela final.


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Postaremos no fórum alguns arquivos documentais sobre o tema. Todos os jogos da Holanda nesta Copa do Mundo, bem como a maioria das finais do Ajax e um documentário sobre seu grande gênio, Cruyff.


Links dos posts:

1) Ajax

Milan x Ajax 1969
Ajax x Panathinaikos 1971

2) Holanda

Holanda x Inglaterra 1969

3) Documentário

Cruyff : O profeta do gol

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